2007-12-26

ALfredo Poeiras

Na sua versão completa o comentário está na caixa do post anterior mas para não ficar lá escondido trago-o para aqui. Para equilibrar os comentários da carta abaixo exposta. Afinal o comentário do Alfredo Poeiras é o de um operário-artista ou vice-versa da Marinha Grande e em termos de operariado e lutas operárias a Marinha Grande desde a revolta dos anos trinta que pede meças a qualquer terra operária incluindo o Barreiro!
Eis uns extractos do texto:

"O Pai Natal é um bacano, tinha-lhe pedido o teu livro, e ele não fez por menos...

«...Sou operário vidreiro, fui militante do Partido e da UJC/JCP durante alguns anos fui membro da Comissão Central.
Também passei por Moscovo, não pela escola do Konsomol, mas pelo Instituto de Ciências Sociais, em 1979.
Faço parte do imenso grupo anónimo que ao longo dos anos saiu do partido por não concordar com muitas das situações que tu consegues descrever neste livro.
Saí ainda antes do fim da URSS, o que aconteceu, só não era visto por quem não queria ver.
Mas lamento, quem ficou a ganhar foi o Capitalismo.
Até há pouco tempo tinha apenas a 4ª classe, o ano passado fiz o 9º ano no processo do RVCC [Novas Oportunidades] neste momento estou a tentar fazer o 12º no mesmo processo.
Estou a escrever isto porque, num dos trabalhos que já fiz. inclui este meu pensamento:
"Ao acabar este trabalho, não sei se consegui, transmitir toda a minha experiência e todas as minhas vivências, no entanto, continuo a acreditar que a luta de classes, terá sempre que ser vista, como o motor de desenvolvimento da sociedade. Não acredito que a sociedade Capitalista seja o fim, haverá sempre quem queira uma sociedade mais justa e fraterna, com menos desigualdades sociais, onde os senhoras da guerra, não tenham o poder de decidir o futuro da humanidade, onde o homem não seja o explorador de outro homem.»
...
Um abraço Alfredo Poeiras
25 de Dezembro de 2007

2007-10-21

O livro, pretexto para debate sobre o PCP

A apresentação do livro "Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via" no fórum da FNAC de Coimbra no dia 11 de Outubro, pelo deputado Osvaldo de Castro, suscitou o interesse de algumas dezenas de participantes entre os quais algumas figuras de relevo da vida política e académica nacional e Coimbrã.
Após a intervenção do deputado Osvaldo de Castro que apresentou o livro e evocou com brilhantismo a vida política nacional em cujo contexto o livro se situa e a exposição feita pelo autor, seguiu-se um interessante debate que contou com a participação de Vital Moreira, Rui Namorado e a sindicalista Fátima Carvalho entre outros. Presentes também amigos como Carlos Cidade, Moura e Sá, José Baldaia. José Baldaia, empresário, que nesse dia enchia a capa da revista Visão como cozinheiro amador de eleição.

O debate versou nomeadamente a história do PCP e as razões da sua trajectória singular no contexto europeu, após o desaparecimento da União Soviética, onde outros partidos comunistas desapareceram ou minguaram de forma mais acelerada que o PCP.

No fim do debate, um repórter da Lusa fez uma breve entrevista ao autor de que resultou a seguinte notícia no site da RTP.

2007-10-05

Lançamento dia 11 em Coimbra

O Livro "Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via" vai ser apresentado no forum da FNAC de Coimbra na próxima 5ª feira dia 11 de Outubro às 21h e 30 minutos pelo deputado Osvaldo de Castro.
A primeira apresentação foi feita pelo escritor Mário de Carvalho e pelo eng. Mário Lino na FNAC do Chiado, em Lisboa, em 17 de Maio passado. A segunda apresentação, na FNAC do Porto, em 25 de Setembro, foi feita pelo dr. Joaquim Pina Moura.

Segunda edição

A segunda edição de Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via será distribuída em Outubro e revela o interesse por livros de memórias sobre a vida política nacional recente.

2007-09-30

Apresentação do livro no Porto

No dia 25 de Setembro o livro Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via foi apresentado no Porto no fórum da FNAC em Stª Catarina, por Joaquim Pina Moura, com a presença do autor e da Isabel Ferreira representante da editora Âmbar.
Pina Moura fez uma apreciação crítica das posições políticas defendidas pelo PCP e que estiveram na origem das divergências políticas que ao longo do tempo culminaram na dissidência e afastamento de muitos quadros e militantes, no fim dos anos 80 início dos anos 90.
O evento contou entre outros com a participação de antigos membros do Comité Central do PCP, como Ernesto Afonso e João Semedo actualmente deputado pelo Bloco de Esquerda, o ex-deputado do PS, Pedro Baptista, o jornalista Carlos Magno. Uma das intervenções da assistência pertenceu a um militante ou simpatizante do PCP que ponderou não ter o autor nem o apresentador o direito de falar desse partido e que, pelo que disseram, provaram que nunca foram comunistas. Foi uma intervenção que assegurou um largo pluralismo ao breve debate.

2007-08-25

"A TEORIA É A NOSSA PRÁTICA"

O terceiro capítulo do livro Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via que em seguida se reproduz aborda a questão do culto da personalidade, a sacralização de Álvaro Cunhal e a questão da "unidade de pensamento" no PCP (enquanto nele estive filiado, agora não sei o que lé se passa!...) para cuja preservação a direcção sempre recusou uma revista teórica com argumentos como o do título;

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CUNHAL NO OLIMPO

1) A sacralização de Álvaro Cunhal

Álvaro Cunhal com setenta e quatro anos de idade e ainda com cinco anos à sua frente como secretário-geral do partido, chegara ao Olimpo. Um Olimpo à medida do PCP, mas em todo o caso um Olimpo.
O Partido Comunista Português era em finais da década de 70, tendo em conta o país, um dos maiores e mais influentes partidos comunistas dos países capitalistas. Se houvesse que atribuir méritos por tais grandezas, ninguém hesitaria em atribui-los sobremaneira a Álvaro Cunhal. Sem esquecer os outros quadros revolucionários e as lutas notáveis que protagonizaram que lamentavelmente, ninguém vai conhecer porque não foram passadas a escrito salvo um número relativamente pequeno de autobiografias ou relatos, vivos e interessantes, de lutas contra a ditadura da autoria dos próprios protagonistas. E é pena. Para os Portugueses que ficam sem conhecer uma parte de si. E em muitos casos uma parte vibrante de coragem e abnegação.

Figura carismática e amada no seu partido pelo heroísmo patenteado nas prisões fascistas e na clandestinidade, “o Álvaro” era venerado pela sua coragem, inteligência, cultura. E dedicação total à luta pelo comunismo. A sua acção e as suas características pessoais tornaram-no um dos mais prestigiados dirigentes internacionais no universo comunista e em particular na União Soviética.
A luta sem desfalecimento durante o meio século de ditadura em condições de clandestinidade e forte repressão e depois o papel central desempenhado pelo PCP na revolução do 25 de Abril trouxeram-lhe e ao seu líder grande influência entre uma significativa parte dos Portugueses. Se grande era a força do ditador Salazar, à sua altura levantava-se Cunhal! Muitos assim pensavam.

O prestígio e a adoração de Cunhal não deixavam de crescer num partido onde, a iliteracia, o atraso cultural, a fé que não o estudo, caracterizava uma grande parte dos militantes apesar de ter nas suas fileiras, ou como simpatizantes, grande parte da elite intelectual do país.
A comparação com a classe operária da França, Itália, Alemanha e outros países europeus era frequentemente usada por Álvaro Cunhal, na permanente formação interna de quadros que constituíam as suas conversas, para sublinhar uma pretendida superioridade revolucionária da classe operária portuguesa patente nas frequentes manifestações, greves e agitações sociais. E que explicação haveria para tal milagre no país que incessantemente repetíamos ser o mais atrasado da Europa? Pois apesar de a classe operária portuguesa ser das últimas a formar-se na Europa Ocidental devido ao atraso industrial do país, ter menos tradições de luta revolucionária e estar mais marcada pela sua chegada recente do campo, tal prodígio, teria de se concluir, resultava do persistente trabalho de esclarecimento do PCP junto da massa dos trabalhadores! Intimamente era lógico concluir que em elevado grau isso era mais um mérito a atribuir a Álvaro Cunhal.

O secretário-geral em cada reunião do comité central e sempre que a ocasião o proporcionava, explicava como era gratificante ver reconhecido na União Soviética e em todo o movimento comunista internacional “o grande prestígio do nosso partido”. Cada participação em acontecimento importante lá fora, no mundo comunista, de acordo com a informação ao comité central, revelava o alto valor e estima em que era tida a participação do PCP. Como quem chefiava as delegações portuguesas para acontecimentos de maior relevância era quase sempre Cunhal concluíamos a quem se devia atribuir o mérito. Só a firme oposição de Cunhal ao culto da personalidade impedia que o próprio colocasse tais feitos no seu curriculum e insistisse em os atribuir ao “nosso glorioso colectivo”.

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2) Teorias? bastavam as de Cunhal

Apesar de a condição operária constituir a regra de oiro na selecção e promoção de quadros do PCP e ser defendida com esforçado empenho pelo secretário-geral, não foi possível encontrar na classe operária portuguesa nem no partido, nas últimas dezenas de anos, um único quadro operário (ou não operário!) que se aproximasse da estatura do intelectual Álvaro Cunhal. Ou que lhe pudesse fazer sombra! Não é estranho? Não, não é estranho. É uma consequência do “pensamento único”, concepção da unidade do partido tão acarinhada no PCP e uma consequência da sacralização de Cunhal. Mesmo à sua revelia. Tais quadros teriam de respeitar, no essencial, as ideias de Cunhal, mesmo delas discordando ou confrontá-lo na sua liderança. O terreno estava minado e ninguém se dispôs a trilhar tão incerto caminho ou conseguiu evitar as minas.
Este vazio que se foi consolidando desde Janeiro de 1961, altura em que Cunhal fugiu do Forte de Peniche e regressou à direcção do partido, tinha pelo menos duas consequências redentoras, libertaria o partido durante décadas do vício “próprio dos partidos burgueses” que é a competição “fratricida” pelo poder e garantiria a inamovibilidade de Cunhal na liderança do partido.

O modelo do PCP era e continua a ser o do partido estalinista. Modelo do partido bolchevique que após a morte de Lenine viu agravada a liberdade de expressão, acabou com a possibilidade de organização de tendências, proibiu a circulação na imprensa partidária e na organização do debate livre de teses opostas às da direcção. O modelo de partido consagrado com a chefia de Estaline acabou por ser o modelo que, na prática, serviu de exemplo aos comunistas de todo o mundo, a partir de Moscovo. Em Portugal foi esse o modelo seguido, sem o culto da personalidade, sem as perversões e os crimes de Estaline, sem a paranóia persecutória do “pai dos povos” no fim da sua vida, sem a degenerescência proporcionada pelo poder mas também sem a cultura do estímulo ao debate livre, à pluralidade de opiniões, ao contraditório, à abertura de espaço para posições contrárias relativamente a questões essenciais. Porque relativamente a questões sectoriais a questões tácticas, orientações que não pusessem em causa as orientações centrais, não bulissem com o poder, aí havia toda a liberdade. Naturalmente que estes limites do PCP não eram, para o militante cheio de fé, muito evidentes nem, frequentemente, percepcionados pelo militante comum. Isso só se tornou claro para muitos quando as divergências de fundo vieram ao de cima. A uma escala de massas, como a partir do fim dos anos oitenta, ou individualmente, noutras alturas.

Curioso é assinalar que algum tempo depois da revolução de 25 de Abril foi muito debatido, pelo menos nos corredores da sede do comité central ou em pequenos grupos, e muito menos de forma regular nas organizações do partido ou no comité central, a questão do debate teórico no partido e em particular a natureza a dar ao boletim O Militante. Havia quem defendesse que este deveria dar lugar a uma revista de debate teórico ou das questões ideológicas mas tais opiniões tiveram a oposição de Cunhal e outros dirigentes que defenderam que a revista devia continuar a ser um boletim de organização. A direcção de modo nenhum poderia tolerar a ideia da “revista teórica”; isso redundaria no debate de questões essenciais de orientação e na pluralidade de ideias a circularem pela organização com a chancela da legalidade. Seria transformar o partido, “exército disciplinado” com um “pensamento único” no despautério de um “clube de discussão”. Para teorias bastavam as que Cunhal fosse escrevendo nos seus discursos ou documentos oficiais. Álvaro Cunhal chegou a sustentar, em conversas informais, na Soeiro Pereira Gomes, que em Portugal, com o PCP na vanguarda por transformações económicas e sociais profundas, “no nosso partido a teoria é a nossa prática”.
Havia duas razões para tal recusa de uma revista teórica. A primeira e fundamental era a já referida, evitar o aparecimento e o debate no partido de “teorias” que se pudessem chocar com as da direcção ou de Cunhal. E a segunda porque Álvaro Cunhal não tinha o pendor especulativo e teorizador característico de alguns expoentes do movimento comunista.


Quando a decadência do PCP começa a acentuar-se nos anos oitenta e se tornava indispensável determinar as suas causas e mudar a política, a exigência de pensamento único em torno do pensamento do líder está de tal modo sedimentada, é um valor de tal modo sagrado que tocar nele é trair e colocar-se ao lado do inimigo.
Quando o definhamento do PCP parece tornar-se irreversível para o fim dos anos oitenta e é necessário questionar o secretário-geral ou confrontá-lo com a realidade que em definitivo recusa aceitar, Álvaro Cunhal já não está acessível. Paira nas alturas muito acima do erro humano. A sua gerência do PCP já não é terrena. É do domínio do sagrado. No PCP ascendeu à condição de intocável. Apesar de andar por ali na sede, no meio de nós, de o tratarmos por tu, de almoçar e ir tomar café connosco, usar jeans e camisas de meia manga.

2007-06-22

Entrevista ao Portal da Literatura

O Portal da Literatura pediu-me uma entrevista sobre o livro Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via e eu agradeçi e dei-lha com todo o gosto.
Aproveito para informar que com excepção desta e da que dei a José Pedro Castanheira para o Expresso, todas as outras sairam sem serem vistas por mim. Resultaram de conversas gravadas e o jornalista escreveu as "minhas" respostas, com maior ou menor fidelidade ou acerto e condicionado pelos constragimentos de espaço. Daí que, apesar de em geral haver um notável poder de síntese e qualidade, por vezes apareçem respostas estereotipadas ou até incompreensíveis. De modo que o que faz fé é mesmo o que está no livro.
Link para a entrevista no Portal da Literatura: Aqui

2007-06-07

Visão, 2007-06-06

Entrevista conduzida por Miguel Carvalho. Fotos de Luís Barra


Não diz Álvaro. Diz Cunhal. Nem sequer Álvaro Cunhal
Quem conhece o PCP, sabe que isso é a marca de um divórcio, a distância definitiva. Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via (edições Ambar) é a história de uma separação dolorosa, amarga, por vezes contada num tom azedo. Afinal, é o livro de um homem de 68 anos, com quase três décadas de PCP, ex-dirigente da ARA, a organização armada dos comunistas para minar o fascismo português. Afastado da política activa, militante do PS, gestor e consultor, avô babado, Raimundo Narciso ainda «puxa palavra» num blog com o mesmo nome. Puxemos agora pela conversa...

Porquê este livro após tantos anos e depois da morte de Álvaro Cunhal?
Publicá-lo em cima dos acontecimentos podia ser interpretado como vontade de intervir na vida do PC. Estava escrito há anos, apenas o retoquei. Foi mero acaso sair depois da morte do Cunhal. A decisão de publicar é anterior.

O que sentiu no dia em que ele morreu?
O funeral foi um acontecimento memorável, tendo em conta o que ele representa
para a história do PCP e do século XX. Mas não senti mais do que isso.

(Continua aqui )

2007-06-04

Na blogosfera

Relação dos blogs (os que detectei) que referiram ou comentaram o livro Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via:

Água Lisa (6) link 1 , link 2 , link 3 , link 4 , link 5 , link 6

Nota: também encontrei um blog que a propósito do livro comentou não o livro mas o autor. Mas a linguagem de tão desapropriada (terminologia rasca do "milieu") que por uma questão de higiene me dispensei de mensionar.
Também em alguns posts dos blogs enumerados aparece o comentarista (o camarada!!) de serviço, sob vários nomes, a revelar que a mentalidade reinante lá por casa se mantém "coerente" e imutável..

2007-05-31

O anúncio público da "Terceira via"

Fotografias, no Diário Popular, de José Saramago, (escritor), Baptista Bastos (escritor), Mário de Carvalho (escritor), António Borges Coelho (historiador), Urbano Tavares Rodrigues (escritor), Joaquim Gomes Canotilho (jurista/constitucionalista), António Hespanha (historiador), António Teodoro (Presid da Federação Nacional dos Professores-FENPROF) e Mário Vieira de Carvalho (musicólogo)

Um futuro Nobel no INES

Reunião no Fórum Picoas, em Lisboa, em 13 de Janeiro de 1990, para apresentação do Instituto de Estudos Sociais, INES. Presentes cerca de mil pessoas, segundo O Jornal. Na mesa vêem-se, José Luís Judas (em pé), Álvaro Veiga de Oliveira, Raimundo Narciso, Orlando de Carvalho, José Saramago, Manuel Lopes, António Teodoro, António Hespanha, Vital Moreira, Joaquim Gomes Canotilho, José Magalhães. Na mesa, não abrangidos pela fotografia, encontravam-se, também, Barros Moura, Fernando Castro, Piteira Santos, Correia Pinto, Zita Seabra, Horácio Guimarães, Fernando Loureiro, Rui Mário Gonçalves, António Osório. (Fotografia de Fernando Peres Rodrigues, na página 175 do livro AC e a dissi...)

2007-05-28

RN na Antena 1 com Maria Flor Pedroso

O link aí em baixo leva à gravação da entrevista feita a Raimundo Narcio, na Antena 1, em 2007-05-26, por Maria Flor Pedroso.

Aqui que ninguém nos ouve, e na esperança que não reproduzam, conto-vos que quando Maria Flor Pedroso (jornalista que já conhecia dos tempos da AR e por cuja actividade profissional tenho muita admiração) me telefonou e convidou para o seu programa das manhãs de Sábado, a deixei muito surpreendida quando lhe respondi que ficara desapontado.
- Então??
- Bom... é que pensei que me vinha convidar para substituir o professor Marcelo.

RTP - Podcast - MARIA FLOR PEDROSO

2007-05-27

NA FEIRA DO LIVRO DE LISBOA

Das 16 às 18 ou 19 h estarei hoje, no stand da Âmbar, na feira do livro, em Lisboa, supostamente para dar autógrafos às centenas de ávidos leitores do livro a que este blog se dedica. Na realidade depois do que me disseram, que certa vez na Feira do Livro, um prémio Nobel passou a maior parte do tempo entediado com a falta de pedidos de autógrafo... depois desta desanimadora informação espero que alguns amigos ou autores como eu, estejam por ali e aproveitemos o tempo para uma boa cavaqueira.
Os visitantes desta posta estão desde já convidados, se forem a passar por ali, para se apresentarem e eu lhes agradecer a sua visita aqui à DISSIDÊNCIA.

Mário Lino apresenta o livro "AC e a diss..."

O livro Álvaro Cunhal e a Dissidência da Terceira Via é o segundo livro escrito pelo Raimundo Narciso e, tal como o primeiro, aborda a organização, o funcionamento e a actividade do PCP em períodos em que o autor teve um papel muito relevante nesse partido.
Aquando da sessão de lançamento do seu primeiro livro – ARA: Acção Revolucionária Armada. A História Secreta do Braço Armado do PCP, realizada em Dezembro de 2000, o nosso saudoso camarada e amigo José Barros Moura, que fez a respectiva apresentação, referiu: «este livro não é um livro de teoria política, nem um ensaio histórico, nem um romance, nem um livro de memórias. É um pouco de tudo isto ao mesmo tempo e nessa característica reside muito do seu valor». Penso que a mesma apreciação se aplica perfeitamente a este segundo livro do Raimundo Narciso.
Mas sendo o Raimundo um protagonista importante, ou mesmo um dos protagonistas centrais deste livro, considero apropriado que tanto o livro como o seu autor/protagonista sejam objecto desta minha contribuição para a apresentação do livro.

Comecemos, pois, pelo autor.

Conheci o Raimundo Narciso em finais de 1959, princípios de 1960, pouco tempo depois de, vindo de Moçambique onde vivia com os meus pais, ter chegado a Lisboa para frequentar o curso de engenharia no Instituto Superior Técnico. Tinha então... [continua aqui]

2007-05-26

JN de 2007-05-26

Com o título de PS quis adesão directa de plataformistas o Jornal de Notícias aproveita a entrevista dada por RN, nesta data, a Maria Flor Pedroso, na Antena 1 e dela faz a seguinte notícia.

O ex-líder do PS António Guterres propôs, nas vésperas das eleições autárquicas de 1993, a adesão individual ao partido dos dissidentes do PCP que criaram a Plataforma de Esquerda. A revelação é feita por Raimundo Narciso, em entrevista à jornalista Maria Flor Pedroso, que hoje será emitida pela Antena 1.

Narciso, expulso do PCP em 1991 e então dirigente daquela organização cívica independente, conta que Guterres colocou em pé de igualdade a adesão ou uma negociação política, com vista à inclusão de plataformistas nas listas do PS às autárquicas de 1993. Foi esta última a via seguida, propiciando, por exemplo, a eleição de José Luís Judas para a presidência da Câmara de Cascais, então ainda na qualidade de independente.

Autor da obra "Cunhal e a dissidência da Terceira Via", recentemente editada pela Ambar, Raimundo Narciso reitera a tese de que, quando aquele grupo começou a exprimir posições críticas em relação à linha oficial do PCP, em finais de 1987, nenhum dos seus membros tinha intenção de aderir ao PS. A entrada no partido de alguns dos envolvidos, como Pina Moura ou Judas, ocorreria, de facto, apenas sete anos depois. O próprio Raimundo Narciso chegou a ser eleito deputado como independente, antes de se filiar. Outros dissidentes, como Miguel Portas e Rogério Moreira, preferiram o Bloco de Esquerda.

Narciso assegura na entrevista que os militantes do PCP ligados à Terceira Via, cujas movimentações relata na obra, nunca tiveram "esperança de que Álvaro Cunhal fizesse mudanças", susceptíveis de tornar o partido "mais eficaz", num contexto de profundas transformações políticas, induzidas pela Perestroika de Mikhail Gorbachov.

!º encontro da PE com o PS (1992)



Fotografia (de Luís Carvalho) saída no Expresso de 4 de Janeiro de 1992, vendo-se José Barros Moura e Raimundo Narciso à saída da casa de Jorge Sampaio, então secretário-geral do PS, onde se verificara, na véspera, o primeiro encontro da associação política Plataforma de Esquerda em cuja delegação estava também Miguel Portas, com o PS.

2º encontro PE-PS



José Barros Moura, Raimundo Narciso e António Guterres recém eleito secretário-geral do PS, (fotogafia de Luís Ramos, Público de 1992-02-06). Em virtude da mudança de S-G do PS realizou-se um 2º encontro entre a Plataforma de Esquerda e o Partido Socialista em 5 de Fevereiro de 1992.

Primeira reunião de trabalho entre a PE e o PS



Fotografia de Clara Azevedo, Expresso 1993-05-08.
Da esquerda para a direita vêem-se: Raimundo Narciso, José Barros Moura, José Ernesto Oliveira, Joaquim Pina Moura, da Plataforma de Esquerda e António Guterres secretário-geral do PS.
Enquanto os anteriores encontros assinalados pelas fotografias dos posts seguinte são encontros protocolares este é primeiro encontro de trabalho com vistas a discutir um eventual acordo de cooperação (que se concretizou) para as eleições autárquicas no fim desse ano.
Neste encontro estiveram presentes também José Luís Judas pela PE e outros dirigentes do PS, nomeadamente Jorge Lacão, que não se vêem na fotografia.

NA ANTENA 1


Amanhã, a partir das 12 horas, com Maria Flor Pedroso, à conversa a pretexto ( sobre, e para lá) do livro Álvaro Cunhal e a dissid... Que depois virá transcrita no Jornal de Notícias.
É obrigatório levar um disco. Levarei Fausto. Por este rio acima que canta viagens de Fernão Mendes Pinto.

POR ESTE RIO ACIMA

O barco vai de saída
Adeus ó cais de Alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P'ra lá da loucura
P'ra lá do Equador

Ah mas que ingrata ventura
Bem me posso queixar
da Pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas ai quebra-mar
Com tantos perigos ai minha vida
Com tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida
....
[letra aqui]

Delegado


António Mendonça, (actual presidente do Conselho Directivo do Instituto Superior de Economia e Gestão), quando em 1988 falava na tribuna do XII congresso do PCP, no palácio de Cristal no Porto (fotog pág 167 do livro AC e a diss...)

2007-05-23

O 7º mais vendido na FNAC

No top Fnac "Álvaro Cunhal e a dissid..." está em 7º lugar entre os livros mais vendidos. Ver aqui

2007-05-22

Fotografia da página 131 do Livro "AC..."

Da esquerda para a direita, Joaquim Pina Moura, José Luís Judas e José Barros Moura (1944-2003). Delegados ao XII congresso do PCP, Palácio de Cristal, no Porto, de 1 a 4 de Dezembro de 1988.

2007-05-21

No Diário de Notícias de 2007-05-19

AS PESSOAS mais ou menos atentas à vida política já adivinhavam que o Partido Comunista Português era assim. A monumental biografia de Álvaro Cunhal que José Pacheco Pereira vai publicando ainda não deixa margens para grandes dúvidas. Livros estrangeiros sobre a URSS, como ‘No País da Mentira Desconcertante’, do croata Ante Ciliga, também não. Agora, com este ‘Álvaro Cunhal e a Dissidência da Terceira Via’, de Raimundo Narciso, o leitor dispõe de uma perspectiva privilegiada para ver em acção o falecido secretário-geral do PCP controlando consciências e delineando a táctica e a estratégia do movimento comunista em Portugal. Raimundo Narciso não era um comunista qualquer. Passado à clandestinidade em Agosto de 1964, quando era estudante do Instituto Superior Técnico, tornou-se funcionário do PCP. Integrou o comité central, de 1972 a 1988. Foi um dos criadores da ARA, Acção Revolucionária Armada (sobre este tema escreveu um excelente livro, ‘ARA— A História Secreta do Braço Armado do PCP’,, ed. Dom Quixote). Foi expulso do Partido Comunista em 1991 e eleito deputado à Assembleia da República em 1995, como membro da Plataforma de Esquerda, mas integrando as listas do PS, partido no qual ingressou em 1999. A cisão de Raimundo Narciso com o seu, até então, partido de sempre não foi abrupta, mas lenta e evolutiva. A irrupção da perestroika na URSS de Gorbachov marcou a viragem na consciência política de Narciso e outros camaradas seus — sempre minoritários na organização— que quiseram refundar o PCP. O que provocou angústia na direcção partidária. Cunhal tentou, sempre charmoso, trazer pacificamente as ovelhas negras para o redil da ortodoxia. Mas outros dirigentes não tiveram tanta elegância. Octávio Pato, com a sua proverbial brutalidade, mandou seguir Narciso pelos serviços de segurança do partido. Estes retratos da nomenclatura partidária são um dos interesses da obra. È pena, porém, que nem todos os intervenientes na polémica sejam identificados, permanecendo anónimas muitas citações entre aspas. Uma informação inédita e saborosa — e exemplar do maquiavelismo de Cunhal — é a do papel desempenhado pelo PCP na formação do Partido Renovador Democrático, do general Ramalho Eanes. Tudo para destruir o PS. Livro utilíssimo.
Álvaro Cunhal e a Dissidência da Terceira Via
Raimundo Narciso
>género : Memórias
>Editora Âmbar
> *****

2007-05-19

MÁRIO DE CARVALHO (2)

APRESENTAÇÃO DE «ÁLVARO CUNHAL E A DISSIDÊNCIA DA TERCEIRA VIA» DE RAIMUNDO NARCISO

[Por Mário de Carvalho]

"Como é que gente bem formada, culta, às vezes brilhante, opta (estamos a falar de opções – ninguém aqui foi obrigado) pela renúncia à crítica e pela adopção de fórmulas que nem por serem tranquilizadoras e identitárias deixam de transportar consigo a mentira e os germes da iniquidade." Esta foi a questão com que Mário de Carvalho interpelou a numerosa plateia que assistiu ao lançamento do livro de Raimundo Narciso.

1 - Eu vou ser muito breve porque alguma experiência destes eventos me diz que as pessoas não têm grande vontade de ser trabalhadas com grandes discursos pelas sete da tarde, e reservam a sua disponibilidade, e bem, para ouvir o autor do livro que é lançado. Anuncio já que tenho pouco mais de 7 500 caracteres, o que, espero esteja dentro da medida da vossa paciência. São apenas algumas palavras para lembrar o percurso do autor, até à expulsão do PCP; para realçar aspectos que me pareceram mais marcantes no livro, e para deixar uma ou outra nota à margem:

2 - Raimundo Narciso abandonou o curso de Engenharia, no Técnico, em 1964, para entrar na vida de resistência clandestina, nos quadros do PCP. Viveu dez anos na clandestinidade em condições de grande risco e dureza, e integrou o comando da ARA, uma organização de acção armada do Partido Comunista, que exigia uma especial valentia, sangue frio e abnegação. Dessa actividade deu conta numa narrativa empolgante: “ARA – Acção Revolucionária Armada: A História Secreta do Braço Armado do PCP”, editado em 2000. Em 1972 ascendeu ao comité Central do Partido. Depois da Revolução do 25 de Abril foi encarregado de tarefas de especial melindre, designadamente dos contactos com áreas sensíveis da sociedade portuguesa, como são as Forças armadas, as policias e o aparelho judicial. Foi membro do comité central até 1988, e em Novembro de 1991, foi expulso do Partido, com Mário Lino e José Barros Moura, na sequência duma célebre reunião no Hotel Roma em Agosto de 1991.

3 – Recordada, em termos gerais, a biografia de Raimundo Narciso como é pública e conhecida, quero acrescentar uma nota pessoal para assinalar a extrema simpatia do Raimundo, a facilidade de contacto e de criar amigos, a sensatez e lucidez das apreciações, a capacidade de iniciativa, o sentido de justiça e também a firmeza e a coragem em situações difíceis, como muitos tiveram ocasião de comprovar.

4 - Os eventos que se relatam e documentam neste livro, ocorridos há vinte anos, ou perto, têm que ver com o inconformismo do autor em relação à análise política da direcção do PCP, ao centralismo democrático de natureza estalinista e às maneiras de pensar e processos de actuação do aparelho do Partido que a sua consciência e o seu sentido de dignidade não aceitaram. Raimundo Narciso descreve-nos quase sempre com bonomia e também sentido de humor, às vezes um tudo-nada amargo, o funcionamento, o debate e o estilo do Comité Central, no rescaldo da subida ao poder de Mikhail Gorbachev, com as convulsões e revelações que se seguiram, e as consequências últimas que de todos são conhecidas. Ficamos a par de alguns pormenores que habitualmente não são divulgados, desde a austeridade do gabinete de Álvaro Cunhal, à reserva do sexto andar das grandes deliberações. É nos contado o ambiente da Soeiro Pereira Gomes, como se adensava o quotidiano dos jovens quadros que eram então o principal apoio e suporte da direcção e que observavam, com estupefacção, dia após dia, a inalterabilidade do Partido face aos irrefutáveis acontecimentos que estavam a mudar o mundo. São abordados alguns casos que na altura tiveram grande repercussão mediática, como o grupo dos seis, o caso Zita Seabra, e seu tratamento no Comité central e o aparecimento, de início cauteloso, quase críptico, depois declarado, das primeiras dissidências internas que vieram a resultar no movimento a que os jornalistas chamaram “terceira via”. A quem não esteja familiarizado com os hábitos, praxes e linguagens do Partido, certas passagens remetem para um clima estranho, mesmo exótico que, no entanto, diga-se de passagem, era aceite, vivido e praticado por cidadãos perfeitamente normais e conviventes, como o Raimundo, outros que estão aqui e eu próprio. E continua a ser, é preciso dizê-lo por pessoas que, enquanto pessoas, e o Raimundo não discordará disto, são merecedoras de consideração e estima. Nos escalões mais altos, o jogo de linguagem chegava a ser rebuscado e repassado de subtilezas que só estavam ao alcance dos mais experimentados. Há no livro saborosas descrições da cautelosa utilização do procedimento a que, em dramaturgia se chama de “subtexto”: o que se diz é diferente daquilo que se significa. Discorre-se sobre uma coisa, quando se quer dizer outra: o que parecia ser uma questão de oportunidade sobre o adiamento de um congresso, por exemplo, recobria o primeiro questionamento subliminar do partido, do seu funcionamento e das suas políticas. Talvez nos sectores por onde eu andei, numa altura em que o Partido estava repleto de intelectuais, os limites não fossem tão perceptíveis nem as sensibilidades tão subtis. Que eu me lembre, as afirmações cismáticas eram tão vulgares como o exercício irónico, ou mesmo paródico, do senso de humor. Mas estou a falar de sectores de inimputáveis, encarados com a bonevolência paciente com que os adultos escutam as divagações infantis. Mas a nível do Comité Central imperava tacitamente uma estranha e generalizada demarcação dos limites da discussão. Podia-se discutir veementemente e, até extremadamente, tudo quanto fosse secundário e nada do que fosse essencial. Podia-se criticar os tons da tapeçaria, desde que não se tocasse nem no desenho, nem nas cores nem sequer na qualidade do tecido.

5 - Os eventos, as peripécias (e as partes gagas) que vêm relatados tiveram as suas personagens e as suas autorias. O livro – a que, pelo menos uma vez, o autor chama modestamente “esta memória” - dá conta de intervenções de Álvaro Cunhal e doutros elementos da direcção do partido, uns mais conhecidos, outros menos, numa aproximação de pormenor. Às vezes as palavras do Raimundo são quase de ternura, como quando se refere, por exemplo, a Blanqui Teixeira, do lado da ortodoxia, ou a António Graça, do lado da Crítica. Outras vezes, como nas referências a Jaime Serra, sobreleva a admiração pela coragem e pela frontalidade. Num ou noutro caso o juízo é mais severo (e posso acrescentar que nem sempre coincide com o meu) mas sem passar nunca pela agressividade ou pelo desrespeito pessoal.

6– A razão porque eu estou aqui, hoje, nesta mesa, a comentar este livro não é seguramente a minha grande avidez de falar em público, e não será apenas a admiração e a simpatia que tenho e já manifestei por Raimundo Narciso. É também porque, tratando-se de uma abordagem em que o autor relata factos que foram seguramente marcantes na vida dele, alguns dolorosos e mesmo confrangedores, até com lamentáveis recortes policiescos, Raimundo Narciso não se deixou levar pela raiva e pelo ressentimento. E ainda porque o ponto de vista do autor é inelutavelmente de esquerda, ou seja, do ângulo dos princípios e dos valores e não dos preconceitos e dos interesses; do lado dos homens e não do lado das coisas, sendo certo que as bandeiras também são coisas. Finalmente, porque desde há muitos anos me inquieta também esta questão perturbadora. Como é que gente bem formada, culta, às vezes brilhante, opta (estamos a falar de opções – ninguém aqui foi obrigado) pela renúncia à crítica e pela adopção de fórmulas que nem por serem tranquilizadoras e identitárias deixam de transportar consigo a mentira e os germes da iniquidade. Não é que o livro pretenda resolver de vez o problema. Mas é mais um alerta, documentado e vivido, contra a auto-complacência, o raciocínio burocrático e a demissão da crítica. Como alguém lembrou um dia, no decorrer destas discussões, aludindo a uma célebre gravura de Francisco Goya “o sonho da razão engendra monstros”.

MdC

Mário de Carvalho


Na apresentação do livro "Álvaro Cunhal e a dissidên..." o meu amigo e escritor Mário Carvalho disse que... palavras que a amizade dita mas não posso de deixar de agradecer. Mas antes de transcrever o que ele disse conto-vos como fui introduzido nas extraordinárias e maravilhosas efabulações dos livros do Mário.

[Imagem roubada à Renovação Comunista]

Encontrávamo-nos amiúdo por ali, pela Soeiro Pereira Gomes (já nos conhecíamos há anos). Era sempre grato e estimulante conversar com este "camarada" até porque tínhamas "tarefas" muito distintas no partido por essa altura. Eu dedicáva-me a assuntos de guerra e de defesa. De exércitos, de militares. Ele "controlava" de momento intelectuais, artistas de teatro, incluindo artistas das nossas comédias revisteiras. Invejáva-o. Confesso agora. Ainda que tardiamente. Até porque no meu metier não podia temperar a "secura" masculina e guerreira com o manancial de sensibilidades artísticas e femininas.

Ele tinha publicado então OS CONTOS DA SÉTIMA ESFERA. E quando o encontrava explicava, adiantando-me a qualquer temida inquirição, que não... ainda não tinha lido... mas logo que encontrasse o livro o iria ler.

O tempo passava e cruzáva-me com o Mário. Eu apressava-me sem o deixar abrir a boca sequer para me cumprimentar: que ainda não... ainda não lera... mas...

Até que um dia estava eu num "ponto de apoio", casa de uma camarada (Olá L!) a fazer tempo para que chegasse um oficial do exército que não era conveniente exibir na sede do partido, quando vi ali à mão o livro do Mário. É hoje. Se até leio o Avante e o Militante, arre, porque não hei-de ler Os Contos da Sétima Esfera. É que eu já tinha em tempos lido as duas primeiras páginas e não ficara seduzido.

Atirei-me com militância e determinação ao livro. E deu-se o milagre. À quarta ou quinta página, quando o tenente coronel bateu à porta, decidi levar o livro para casa e até hoje, logo que sai um livro do Mário, vou a correr comprá-lo. E nunca me arrependi.


Esta história foi tão longa que deixo para o post seguinte a intervenção do Mário no lançamento do livro.

Jorge Cordeiro no Avante

Jorge Cordeiro (membro da Comissão Política e do Secretariado do CC do PCP) parece que não leu o livro que comenta mas o comentário que fez no Avante e a seguir reproduzo é indiferente a tal "pormenor".

"Por vias tortas

"Há os que, para se afirmarem e parecerem ser no presente, têm como única réstia de crédito deitar mão ao que foram no passado e entretanto deixaram de ser. Ou, dizendo de outro modo, valendo pelo que foram e não pelo que são, rebuscam no passado que renegaram algo que lhes permita ser levados a sério no presente. Como que um género de ser o que se não é, porque o que se é... é como se não fosse.
...

[texto completo aqui]

João Tunes: fala quem sabe


No Água Lisa:

"Para demonstrar a indigência política, aliada à rasteirice dos argumentos, Jorge Cordeiro está bem para o actual núcleo dirigente do PCP. Leia-se a sentença sumária com que, à Vichinki, condena o livro de Raimundo Narciso “Álvaro Cunhal e a Dissidência da Terceira Via”. Não desmente um único facto relatado no livro mas afirma que tudo são invenções e falsidades. Claro que o importante era o sinal do sagrado Índex, procurando inibir o eventual desavisado militante tentado a ler o “livro maldito”. "

2007-05-18

No Avante

Ana Bela Fino, revelou no Avante estar não só desagradada comigo como com a entrevista que dei ao SOL. Já fez prosa mais elegante. Parece-me.
Mas, se estiver autorizada, leia o livro que dá mais gozo.

O lançamento

Foi assim, ontem, o lançamento do livro Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via, no auditório da FNAC/Chiado.
Aqui fica o meu agradecimento à Âmbar, ao Nelson de Matos e à Marta Morais, aos apresentadores Mário Lino e Mário de Carvalho e a todos aqueles, presentes na sala, a quem não tive oportunidade de o fazer pessoalmente e aos muitos que me comunicaram a impossibilidade de estar presentes.
Estiveram no evento muitos dos "arguidos" daquele "processo" referenciados no livro e outros amigos. Como Vitor Neto e a Simoneta que vieram do Algarve, Joaquim Pina Moura e a Herculana, Fernando de Castro, João Rodrigues, João Galacho, José Ernesto e a Luísa Quitério, que vieram de Évora, Mário Vieira de


Carvalho, João Soares que teve de se dividir entre este e o lançamento do livro de Batista Bastos, o embaixador Seixas da Costa, o professor Mário Murteira, Correia Pinto, os meus colegas de blog João Abel e Manuel Correia e a Joana, Luís Barrosa, António Almeida e a Manuela, Hilário Teixeira, João de Freitas Branco, Vítor Louro que foi um dos membros do grupo [dissidente] dos seis, o João Tunes do blog Água Lisa, a Céu, a Lúcia Esaguy, Luís Santos, Rogério Moreira, Ramiro Morgado, Paulo Fidalgo, da Renovação Comunista, João Semedo deputado independente pela RC, no BE, Penin Redondo do DOTeCOMe vário smilitantes do PCP nomeadamente "Pedro Bernardes" (atenção é pseudónimo;) amigos de outras actividades, como Jorge Costa, o almirante Martins Guerreiro, Margarida Marante, Ernesto Macedo, amigos do tempo do liceu como o João Luís e o Lois, o Miguel (de vermelho no canto inferior direito da fotografia, cuja atenção é visível) e a mãe dele, Helena, minha sobrinha assim como a avó minha irmã, o Jaime, avô do Miguel e a muitos mais amigos e amigas que se vêm na fotografia e outros que não couberam na sala. Não puderam estar presentes saudosos amigos como António Graça e José Barros Moura, entretanto falecidos. Mas esteve o filho, Manuel Barros Moura. Uma saudação especial para Batista Bastos porque à mesma hora lançava o seu livro AS BICICLETAS EM SETEMBRO (esse sim é que deve ser um livro a sério) e não permitiu que eu lá estivesse presente.

Mário Lino apresenta livro sobre dissidências no PCP

É o título do DN de 2007-05-16 (Pág 17)

"O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, vai apresentar amanhã, na Fnac do Chiado, um livro sobre a dissidência da "terceira via" no PCP. O autor é o seu amigo Raimundo Narciso, intitulando-se o livro Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via (edições Âmbar).

Lino e Narciso foram militantes do PCP e ambos integraram, no início dos anos 90, essa dissidência comunista, com outros militantes como Joaquim Pina Moura, Barros Moura (já falecido) e José Magalhães. Mário Lino participou também, até ir para o Governo, num blogue com Raimundo Narciso (puxapalavra.blogspot.com) . O livro de Raimundo Narciso já criou controvérsia. Vítor Dias, ex-dirigente nacional do PCP (mas ainda militante), revoltou-se contra o facto de surgir na obra como tendo participado em conspirações anti-Cunhal que fervilharam no PCP por essa altura, animadas pela perestroika .

"Jamais tive quaisquer contactos ou relações de cumplicidade política ou de concertação de opiniões, acções e iniciativas com o grupo a que Raimundo Narciso se refere e que ele integrava", escreveu Vítor Dias no seu blogue pessoal (tempodascerejas.blogspot.com). Denunciou ainda o "descaramento daqueles que, tendo ido rapidamente para relevantes cargos no PS, ainda hoje nos queiram convencer que antes agiam a favor da 'renovação' do PCP".

Num blogue dedicado ao livro (agrandedissidencia.blogspot.com), Narciso respondeu dizendo que nunca foi "possível encontrar qualquer contribuição [de Vítor Dias] para a saída do pântano em que o PCP se tinha atolado". J. P. H.

2007-05-17

O livro no Jornal de Notícias

JN de 4ª feira 2007-05-16:


Raimundo Narciso, ex-dirigente, revela episódios da luta que a Terceira Via travou


Paulo Martins

O PCP espiou, na década de 80, dirigentes que entraram em ruptura com a direcção, assegura Raimundo Narciso, ex- membro do Comité Central, expulso em 1991, no livro “Alvaro Cunhal e a dissidência da Terceira Via”, que amanhã será apresentado em Lisboa.
O autor descreve a sua própria experiência. Em 1988, nas vésperas do XII congresso, foi seguido por um automóvel do partido, quando se dirigia a uma reunião em casa de Joaquim Pina Moura, que servia de “quartel-general” do grupo . Álvaro Cunha], confrontado directamente, não desmentiu a “vigilância”, que só ele e Octávio Pato, dirigente também já falecido, poderiam ter ordenado. A sua reacção, em tom crispado, foi, porém, muito significativa. Falou na “campanha insidiosa” e no “ataque brutal” de que o PCP estava a ser alvo, concluindo com uma pergunta: “Achas que o partido não deve fazer o que for necessário para se defender?”

A obra, editada pela Âmbar, revela episódios menos conhecidos de um dos períodos mais conturbados da história do PCP marcado pelos ecos políticos da “Perestroika”, que Mikhail Gorbachov empreendera e haverá de conduzir à dissolução da União Soviética. O grupo que ficaria conhecido como Terceira Via — Raimundo Narciso, Pina Moura, José Luís Judas, António Graça. Vítor Neto, Fernando Castro e Barros Moura — acreditava na possibilidade de mudar o partido ‘por dentro”, tanto mais que quase todos eram membros do Comité Central (CC). Narciso assume que a táctica adoptada consistia numa demarcação face a outros “críticos”, como o “Grupo dos Seis”, de Vital Moreira e Veiga de Oliveira, que privilegiava uma intervenção mais mediática, e Zita Seabra.

O papel de Álvaro Cunhal no combate à contestação interna— travado sobretudo nas reuniões do CC, no que à Terceira Via diz respeito ganha contornos mais definidos. O antigo membro da ARA, organização criada pelo PCP para cometer. Atentados contra o Estado Novo revela a forma como Cunhal, numa tentativa de estancar as movimentações, tomou a iniciativa de apresentar o documento “Democracia avançada no limiar do século XXI”, que se traduzia numa revi são do programa do partido, reclamada pelo grupo.

No processo que culminou no afastamento de Zita Seabra, actual deputada do PSD, o líder comunista assumiu posições que hoje podem causar surpresa. Numa reunião em que a então dirigente estava sob fogo, alguém a apodou de “cobarde”. Cunhal interrompeu de imediato: “Olhe que não, camarada. Ela é é corajosa”. E impediu a aplicação a Zi ta da pena de suspensão temporária, fazendo aprovar apenas a saída da Comissão Política.

Álvaro Cunhal procurou, em conversas privadas, convencer alguns membros da Terceira -Via de desistirem da estratégia de confrontação. A Raimundo Narciso, acusou-o de se “movimentar nas margens de uma nebulosa onde se infiltra o inimigo”. O destino dos “críticos”, estava, assim, traçado. Pina Moura foi o único a permanecer no Comité Central após o congresso de Dezembro de 1988, no Porto — no qual José Luís Judas, então um destacado dirigente da CGT propôs publicamente a eleição do CC por voto secreto.

O golpe conservador de Agosto de 1991 em Moscovo, apoiado pelo PC desfez todas as ilusões dos “críticos”. Dezenas de militantes participaram no final desse mês numa reunião no hotel Roma, em Lisboa, de desafio aberto à linha oficial. Em Novembro, três dos promotores do encontro — Narciso, Barros Moura e Mário Lino, hoje ministro das Obras Públicas, que apresenta a obra — foram expulsos do partido. O quarto, José Luís Judas, saiu pelo seu pé.

Revelações

PCF ”infiltrou
militantes no PRD

Com o objectivo de complicar a vida ao PS, o PCP destacou militantes, desconhecidos como comunistas, para integrarem o PRD. A estratégia ruiu em 1987 após o retumbante resultado obtido dois anos antes, o partido criado Ramalho Eanes desapareceu na voragem da primeira maioria absoluta de Cavaco.

“Desafinação” no CC
em Outubro de 1987

A primeira grande confrontação no Comité Central após o 25 de Abril ocorreu na reunião de l3 de Outubrode 1987. Pretexto: o adiamento do congresso, previsto para esse ano; de ressaca da vitória do PSD. António Graça abriu as hostilidades secundado por Vítor Neto, Pina Moura, Narciso e Judas, que reclamou a substituição do método de braço no ar pelo voto secreto, na eleição dos órgãos do partido.

Sobe-desce ao CC
antes do congresso

A lista do Comité Central apresentada no congresso de 1988 sofreu alterações na véspera. À excepção de Pina Moura, os “críticos” saíram. João Amaral futuro dissidente, cujo nome não constava, subiu a suplente, depois de informar que, se não servia para o CC, também não continuaria como deputado. Ruben de Carvalho interpretou a posição de suplente como desagrado da direcção face ao seu envolvimento na organização da Festa do Avante!”. Acabou efectivo.

2007-05-15

Mas que diz o livro, afinal ?

O texto do Expresso de 5 deste mês que provocou a reacção de Vitor Dias (ver o seu blog e posts aqui em baixo) refere três momentos.: "o gabinete de crise", um jantar em Alvalade e "o grupo secreto" que transferiu o seu quartel-general do 5º andar da sede do Comité Central do PCP para casa de Joaquim Pina Moura, no Restelo.
Vítor Dias é referido no primeiro momento, o do "gabinete de crise". O que ficou conhecido com este nome era um grupo de camaradas que trabalhavam na Soeiro Pereira Gomes, de composição variável, dependente de quem estava por ali, à hora do café, a seguir ao almoço, durante o ano de 1987 e talvez os dois primeiros meses de 1988. A sua génese e alcunha o livro explica melhor, num trecho que reproduzo no post abaixo.
Vitor Dias ainda é referido no livro mais cinco vezes, uma boa performance, mas em nenhuma delas é possível encontrar qualquer contribuição sua para a saída do pântano em que o PCP se tinha atolado.

O Gabinete de Crise

4º título do 1º capítulo. Páginas 26 a 28.


Gabinete de Crise foi a expressão que num momento de inspiração um dos membros da segurança da sede do comité central se lembrou de aplicar ao grupinho que diariamente se juntava na sala de convívio, da Soeiro Pereira Gomes, depois de almoço, com cara de caso e conversa solta a discutir o futuro do PCP. Estávamos em 1987. Hoje ninguém se lembra disso a não ser um ou outro dos raros elementos da segurança que ainda se não foi embora, perdida a fé, a esperança e as razões que justificavam o espírito de tanto sacrifício.
O camarada de serviço à porta de vidro que isola o interior da sede do comité central da recepção e sala de convívio veio render o que terminara o seu quarto de sentinela.
– Dá cá as chaves. Passa lá por cima, o Tó Almeida quer falar contigo.
– Queres ficar com o Tio Patinhas ou levo a revista para o quarto andar? Olha, está reunido outra vez o gabinete de crise... Aproveita e vê as caras preocupadas que eles fazem!
Vítor Neto, Fernando Castro, Pina Moura, António Graça, Luís Sá, Vítor Dias o autor destas linhas, e mais um ou outro.
Quem conhece a sede do comité central lembra-se daqueles sofás vermelhos em U, encostados à parede e com divisórias de madeira almofadada para recosto. As chávenas na mesa de vidro fumado ao centro completavam o cenário. Dali aos cafés parisienses do Quartier Latin da nossa juventude era só um pulinho de imaginação.
Saboreávamos o café dado ao balcão pelo Ruben de Carvalho que hoje estava de serviço ao bar. E avaliávamos a perestroika. Sopesávamos as novidades trazidas pelo Vítor Neto, do comunismo italiano, no índex desde que o eurocomunismo de Berlinguer tinha sido excomungado no PCP. O Vítor está casado com a Simoneta uma intelectual italiana, isso e o seu passado de relações com o PCI em Itália, durante o exílio, oferece-lhe frequentes e úteis contactos com o partido de António Gramsci. Bebemos o café e as novidades...
– Vão uns bons pares de anos à nossa frente. Cunhal é que acha que não.
Discutíamos as avaliações da direcção relativamente ao período pré-eleitoral que já se vivia. Ainda faltavam uns meses para as eleições legislativas de 87 e a tendência no sexto andar era o costume, animar as hostes com a ficção da grande perda de apoio popular de Cavaco Silva e a sua derrota inevitável em 19 de Julho próximo. Parecia-nos o contrário mas a direcção não estava para fazer cedências à realidade. Nem todos, lá em cima, pensavam o mesmo certamente. Mas como vem tudo a uma só voz, em formato centralismo democrático não é fácil conhecer as nuances.
– Paredes de vidro!
– Vidro espelhado!
Os camaradas da segurança, à porta de vidro, em quartos de sentinela de duas horas vazias observavam-nos com a atenção de quem necessita de matar o tempo e olhando-nos de longe o rosto e os gestos não sabíamos que nos liam a alma.
– Gabinete de Crise! Aí está. Gabinete de Crise! O que é que achas?


O Centro de Trabalho da Soeiro Pereira Gomes como todas as sedes do PCP usam o pseudónimo de Centros de Trabalho. Não foi só por apego a regras da clandestinidade foi também uma consequência do processo ambíguo com que a revolução começou.
Os capitães que souberam organizar o levantamento militar de nNorte a sSul do país e levar de vencida o aparelho repressivo do Estado Novo acharam-se pequenos para a alta política e foram chamar o general Spínola para a governar. O general que conhecera Estalinegrado do lado dos nazis, andara de braço dado com a PIDE na guerra colonial, estava tão temeroso dos seus antigos patrões como da democracia e achava que o melhor mesmo era aproveitar a PIDE ainda que reciclada e inaugurar a democracia sim, mas sem partido comunista a estorvar. O PCP decidiu não pedir licença ao general para sair da clandestinidade, calçou as luvas, subiu ao ringue para o combate há décadas preparado e nos intervalos das manifestações e levantamentos populares abriu sedes por todo o país. Sedes sim, mas disfarçadas com a designação de centros de trabalho, fórmula facilmente sustentável perante o faiscante monóculo do general com a máxima de que “a nossa política era o trabalho”.
Portanto a sede do comité central na Soeiro Pereira Gomes tinha na certidão de nascimento registado, não sede mas centro de trabalho. E a rua, se assim se lhe podia chamar, tinha só...

2007-05-13

Conspiradores?


Fotografia do livro

Raimundo Narciso, Elivan Ribeiro, João Galacho, Miguel Portas, Fernando Castro, e em pé, também da esquerda para a direita, Ângelo de Sousa (1948-1990) e António Mendonça.



O EXPRESSO no suple

mento Actual publicou um esclarecimento de Vítor Dias que se vê à esquerda e a que junto uma notícia saída no DN de hoje.
Vitor Dias sublinha que o texto do Expresso não tem comas e deixa implícito que não sabe se ele reproduz o que está no livro ou se é apenas uma interpretação sintética do seu conteúdo sem excessos de preocupação a sensibilidades só perceptíveis por exegetas.
O livro já começa a estar à venda e é fácil avaliar se Vítor Dias tem ou não razão. Tal reacção pela forma excessiva passa a ser um dado com muito interesse porque confirma indirectamente o "retrato" das vivências internas do aparelho do PCP de há 20 anos feitas no livro e que parece terem resistido ao tempo.


Devido à difícil leitura transcrevo algumas partes:

"... quero afirmar que esta referência é uma descarada invensão e uma monumental falsidade que absurdamente me procura atingir bem como ao meu camarada Ruben de Carvalho e à memória do infelizmente já falecido meu camarada Luís Sá. atinge directamente (e a dois outros meus muito estimados amigos e camaradas, um dos quais infelizmente já falecido).
"... jamais tive quaisquer relações de cumplicidade política ou de concertação de opiniões, acções e iniciativas com o grupo a que Raimundo Narciso se refere e que ele confessadamente integrava (o mesmo valendo para quaisquer outros grupos que porventura tenham existido ou movimentado fora das regras normais de funcionamento do PCP)."

O Sol entrevista o autor

RAIMUNDO Narciso tornou-se militante comunista nos tempos em que frequentava o Instituto Superior Técnico. Em 1964, abandonou os Estudos, a família e os amigos e passou à clandestinidade como funcionário do PCP, situação que só se alterou com o 25 de Abril.
Durante os anos da dita dura foi escolhido para criar e dirigir a Acção Revolucionária Armada (ARA), organização responsável por vários atentados contra símbolos do Estado Novo — nomeadamente, a destruição, em 197l, de 28 aviões e helicópteros estacionados na base aérea de Tancos.
Membro do Comité Central do PCP durante vários mos, foi expulso juntamente com Barros Moura e Mário Lino, em 1991, por discordâncias profundas com a orientação do partido. Para trás ficavam reuniões tidas por conspirativas em casa de Joaquim Pina Moura, a que se juntavam António Graça, Vítor Neto, José Luís Judas, Barros Moura e Fernando Castro.
Raimundo Narciso nasceu em Torres Vedras em 1938, é casado, tem dois filhos e dois netos. Depois da expulsão do PCP, foi fundador da Plataforma de Esquerda e eleito deputado nas listas do PS, em 1995.
Autor do livro ARA, publicado em 2000, lança na próxima semana uma segunda obra com o título Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via — uma viagem guiada ao interior do Comité Central entre Julho de 1987 e Dezembro de 1988, período que corresponde à preparação do 12.° Congresso do PCP e durante o qual ganha forma a maior cisão no PCP no pós 25 de Abril.

EX-DIRIGENTE DO PCP EXPULSO EM 1991 RELATA EM LIVRO O PROCESSO DE CISÃO

‘Nem mesmo Álvaro Cunhal tinha já uma visão idílica dos países comunistas’.

No seu livro, descreve uma reunião com Álvaro Cunhal a pedido deste para o tentar afastar do grupo dos críticos. Não sentiu nesse momento vontade de reconsiderar?
Todas as grandes decisões da minha vida política foram tomadas de forma muito pensada, nomeadamente aquando da minha passagem à clandestinidade. Álvaro Cunhal não me fez um pedido explícito para reconsiderar mas, na realidade, era esse o objectivo. Essa reunião veio na sequência de várias outras com Blanqui Teixeira e Octávio Pato, todas para, como se dizia no partido «ajudar o camarada». A reunião com Cunhal foi a última tentativa para me reencaminhar.
Álvaro Cunhal não teve uma conversa dessas com todos os críticos. Signifca que tinha um especial apreço por si?
Ele fez esse contacto com pelo menos três pessoas: comigo, com o António Graça e com o Vítor Neto. Éramos os três membros do Comité Central. Havia factores com algum peso no universo de referências do PCP Eu era membro do Comité Central há muitos anos, tinha vivido 10 anos na clandestinidade e havia um aspecto que, na circunstância, dava um certo pedigree: o facto de ter pertencido à ARA (Acção Revolucionária Armada) antes do 25 de Abril e ter sido o elemento que mais fez pelo lançamento dessa organização.
Sendo conhecedor dos métodos utilizados, há uma certa candura na sua surpresa quando descobre que está sob vigilância...
Sim, se pensarmos noutras vigilâncias que se tornaram públicas e que foram comentadas no próprio Comité Central, nomeadamente em relação a Zita Seabra. Digamos que a surpresa foi mais emocional do que racional
Implicitamente, Álvaro Cunhal assumiu que estavam a segui-lo em nome da defesa do partido?
Não confirmou, mas também não negou nada nem mostrou surpresa, como se se tratasse de um procedimento natural.
Porque levou tanto tempo até perder o encanto em relação ao PCP?
A ruptura só chegou no momento em que houve uma divergência séria. Toda a retórica sobre o centralismo-democrático é excelente quando temos todos a mesma opinião, mas não permite divergências.
A perda de influência do PCP na sociedade portuguesa no final dos anos 80, a par do fim da URSS e da Perestroika de Gorbatchov foram determinantes para a cisão em que participou, a maior desde o 25 de Abril.
Privilegio as razões de carácter interno. Todos nós estávamos próximos ou fazíamos parte dos órgãos de decisão do PCP e constatávamos uma evolução cada vez mais desadequada com a realidade, que não acompanhava as grandes mudanças da sociedade portuguesa.
A queda do comunismo fez ruir o ideal da sociedade socialista sem classes?
Nós já não tínhamos essa visão idílica dos países comunistas. Nem mesmo Álvaro Cunhal, só que ele não o dizia.
«Sem União Soviética e sem Álvaro Cunhal, o PCP de Jerónimo de Sousa é um comunismo de sociedade recreativa». Não está a ser injusto com o actual secretário-geral do PCP?
A frase foi retirada de um contexto onde assume uma importância muito relativa. Jerónimo de Sousa é um líder que tem grande empatia com os trabalhadores e é um popular ao contrário de Cunha!, que era um príncipe da Renascença. Jerónimo de Sousa é um homem da fábrica, da sociedade recreativa, do bailarico. Creio que o actual líder comunista trouxe de novo ao partido uma camada da classe trabalhadora que estava desiludida com a situação política e que viu agora à frente do partido um operário muito perto deles.
Jerónimo de Sousa é, de facto eleitoralmente mais atractivo.
Mas, com o fim da URSS, com o desaparecimento de Álvaro Cunha], que era um estratego e um teórico, deixou de haver no PCP um horizonte compatível com a actual realidade. Continuar a falar no comunismo como se falava antes, na sociedade socialista como se visionava, no marxismo-leninismo como cartilha que se usou durante tanto tempo, no centralismo democrático sem um upgrade muito grande é, de facto, um comunismo de sociedade recreativa.

2007-05-11

O Sol



Não é propriamente o Sol da Terra, nem o do Grande Arquitecto, é simplemente o Sol do arquitecto José António Saraiva que, suspeito, apresentará esta semana, um trabalho sobre o livro de que este blog fala.

2007-05-10

O livro na SIC Notícias


Mário Crespo, no Jornal das 9 (21 h), de ontem (2007-05-09) dedicou cerca de 20 minutos ao livro Álvaro Cunhal... . A maior parte do tempo correspondeu a uma entrevista ao autor no estúdio. Já no dia anterior a SIC Notícias, pelas 19h e 15 minutos passara uma reportagem sobre o livro.

Qual a orgem de tanta curiosidade e interesse por tudo o que diga respeito à vida interna do PCP? Seguramente que foi a tradicional prática de grande resguardo quando não de segredo da sua vida interna determinada pela personalidade de Álvaro Cunhal e também pelas sequelas da clandestinidade. Apesar das Paredes de Vidro...

À saída do estúdio o eng. Ângelo Correia que aguardava o início do debate com Helena Roseta interrogou-me, no seu tão característico jeito irónico, se também eu tinha ido falar sobre a Câmara Municipal de Lisboa. Esclarecido, respondeu-me "vou já comprá-lo."

Vítor Dias reage ao Expresso

Victor Dias, membro do comité central do PCP, no seu blog o tempo das cerejas reagiu à apresentação do livro Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via no último número do Expresso, por José Pedro Castanheira, com um post intitulado:



Resposta imediata a uma
mentira divulgada no Expresso

e do qual reproduzo este extracto:

"Inserido numa peça que inclui uma entrevista com Raimundo Narciso a respeito do seu novo livro (que será lançado em breve), intitulado «Cunhal e a dissidência da terceira via», o suplemento «Actual» do Expresso de hoje publica na página 20 um texto do jornalista José Pedro Castanheira onde, a certa altura se pode ler que, nesse livro, «Raimundo Narciso relata as «conspirações» do grupo dissidente (...) , encorajado pelas reformas de Gorbachov. Primeiro na sala de convívio da sede, depois num restaurante do bairro de Alvalade, até adoptarem como quartel-general a residência de Pina Moura no Restelo. O grupo é amplo, mas muitos deles acabaram por fazer marcha atrás, como Luís Sá, Vítor Dias, Ruben de Carvalho e outros.»

Como o livro só é posto à venda na próxima quinta-feira, (2007-05-09) não posso jurar ou garantir com total segurança que esta referência de J.P. Castanheira (que não tem comas) se reporta a elementos constantes do livro ou a informações orais prestadas pelo autor, embora prefira pensar que sim e calcule que assim seja.
De qualquer forma, o que para já me importa, me incomoda e me repugna é que foi publicada em letra de imprensa uma monumental mentira e uma rotunda falsidade que me atinge directamente (e a dois outros meus muito estimados amigos e camaradas, um dos quais infelizmente já falecido)." ...

"Pode acontecer que, uma vez lido o livro, tenha mais algumas coisas a dizer..."

Como a reacção de Vítor Dias se reporta ao texto de José Pedro Castanheira não me cabe a mim responder-lhe. Fá-lo-ei, se algum esclarecimento se impuser, isso sim, se eventualmente se pronunciar sobre o livro.